Paulo Sousa vive agora no Canadá | DR

“Um orgulho tremendo” e “uma saudade incrível”

Em quase 20 anos de viagens, esteve em mais de 15 países, conheceu gente dos cinco continentes. Paulo Sousa vive no Canadá e o regresso não está nos planos mais próximos. Apesar das juras de amor eterno a Portugal… 

Por Luís Malheiro

Paulo Miguel Portela de Sousa viveu cerca de 30 anos em Vila Nova de Gaia, “uma cidade de grandes memórias, de muita felicidade, valiosos amigos”. Garante guardar “um orgulho tremendo” na cidade do seu coração. “Mas, também, uma saudade terrível!” Filho de um ex-supervisor de telecomunicações e de uma ex-enfermeira de neonatologia no Hospital de Gaia, Paulo Sousa nasceu no Porto, mas é em Gaia que se sente em casa. Mesmo a viver no Canadá, a mais 5 700 quilómetros de distância, e depois de viajar pelo mundo há quase 20 anos, este responsável pela alta performance e treinador principal de futebol do Cambridge United garante ter apenas feito uma pausa nas suas saudades. “Nunca deixei Portugal para trás.”

Vive na cidade de Cambridge, na província canadiana de Ontário. Quando chegou, em 2018, alimentava o sonho de poder trabalhar na área que sempre despertou a sua paixão, o futebol. “Abraço esta carreira há cerca de 17 anos. Uma sensação incrível e um prazer inegociável podermos trabalhar naquilo por que somos apaixonados. Um longo percurso para estar onde estou – de muita dedicação, disciplina, paixão e, claro… sacrifícios pessoais”, diz Paulo Sousa.

Quando chegou, alimentava o sonho

de poder trabalhar na área que

sempre despertou a sua paixão,

o futebol

Formado em Ciências do Desporto e Educação Física, com especialização em Futebol de Alto Rendimento, pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, as suas escolas foram, também, aprendizagens de vida. Primeiro, em Paranhos (Porto); depois, cresceu “nas grandes escolas clássicas de Gaia: Bandeira 1, Teixeira Lopes, António Sérgio e Almeida Garrett [Liceu de Gaia]”.

As recordações profissionais que levou de Portugal deixam a desejar. Depois de oito longos anos como professor de Educação Física – “vivi o caminho da frustração que é o regime educacional português” –, Paulo Sousa acabou por concretizar o sonho de ser profissional a tempo inteiro na área do treino de futebol. Cá, treinou o SC Arcozelo (jogou e treinou), Canelas Gaia e CD Candal e jogou pelo Vilanovense.

Da Suíça ao Brasil

Corria o ano de 2013 quando surgiu a possibilidade de experimentar um trabalho em Recreação Desportiva. O destino: a Leysin American School, a cerca e 120 quilómetros a Leste de Genebra. “Fui sem ambição. Fui pelo prazer, pela aventura e de empurrão!” No entanto, garante, mesmo tendo sido apenas um pequeno passo, acabou por ser a grande mudança da sua vida.

Dez anos antes, Paulo Sousa teve o primeiro grande contacto com outros países. Foi em Gent, na Bélgica, onde estudou e concluiu o terceiro ano universitário. Encantadora cidade e país dos quais guardo recordações inesquecíveis.” Ali, viveu praticamente dois anos, “com trabalhos sazonais entre os verões na escola e os invernos do Tobogganing Park, um incrível parque de diversões construído à base de neve e gelo inserido numa estância de esqui”, recorda.

Depois da Suíça, em 2015, emigrou de novo e viveu cerca de três anos no Hemisfério Sul, em São Paulo, Brasil. Isto depois de ter passado três meses a viajar pela América do Sul, entre Argentina, Chile, Peru e… o destino final. Naquela grande metrópole brasileira, trabalhou como coordenador desportivo e treinador de futebol numa das academias do São Paulo Futebol Clube. No total, são 15 os países que Paulo Sousa já visitou e onde conheceu gente dos quatro cantos do mundo.

Portugal é lindo, mas…

Após tantos anos fora de Portugal, Paulo Sousa não esquece as raízes. Diz ter “orgulho, brio, paixão… um tremendo patriotismo por Portugal – um dos países mais bonitos e pacíficos do mundo, com cerca de 900 anos de história”. Sem poupar nos adjectivos ao povo e à cultura portuguesa, este emigrante no Canadá lamenta a herança deixada “por um passado secular de pró-escravidão, de supremacia colonial e de imposição cristã, ou de consequências naturais de uma política ditatorial derrubada há menos de 50 anos”.

As experiências profissionais

e a recompensa financeira são

“o clique para estar ausente da

pátria amada”

Mesmo assim, garante, tem saudades de Portugal e pensa “quase todos os dias em voltar”. Porém, o seu grande objectivo é “ser uma pessoa melhor”. Algo que não podia ser conseguido sem as experiências de viagem ao longo da vida, incluindo as estadas multiculturais na Bélgica Suíça, Brasil e, agora, no Canadá. As experiências profissionais e a recompensa financeira são “o clique para estar ausente da pátria amada”.

“Mas, na verdade, o que me vai me mantendo fora ao longo destes anos são: o meu desejo, os desafios, a coragem, a determinação, a resilência, a curiosidade, a positividade e claro a possibilidade de poder continuar a crescer em termos sociais, profissionais e pessoais”, diz.

Depois de já ter vivido “acima das nuvens”, de pisar “solos a mais de 5 000 metros de altitude”, de visitar glaciares e vulcões, de ver “baleias, leões marinhos e pinguins de perto”, Paulo Sousa aprendeu a “relativizar o que são problemas”. Jura a pés juntos que jamais será “um refugiado de más decisões”, especialmente por ter mais “ciente o senso de família”.

Paulo Sousa cita, inclusive, o filósofo espanhol José Ortega y Gasset – “Eu sou eu e a minha circunstância, e se não salvo a ela, não me salvo a mim” – e o escritor norte-americano Dale Carnegie para melhor explicar a sua decisão: “viver a vida feliz e não sonhar com a felicidade”.

O caminho da felicidade é agora feito a três. Paulo Sousa é casado com Camilla Rosa, “brasileira de São Paulo, planeadora e coordenadora de eventos corporativos internacionais”, e a filha de 10 meses, Melissa. Longe da vista, mas perto do coração, está, também, o irmão mais velho Bruno Portela, arquitecto de formação e que vive actualmente na Suécia.