Emigrou após o 25 de Abril de 1974. Nos Estados Unidos da América, conquistou a felicidade e um “novo” nome. Regressou para contar as suas aventuras, trazer novas gastronomias e tertúlias de poesia e leitura.

Por Michelle Bernachon (texto e fotos)

Recebeu o nome de Joaquim Santos. Os Estados Unidos da América transformaram-no em “Joe”. Da Miami das celebridades do cinema e da música, à Granja que um dia foi palco para alguma da realeza de Portugal não houve estranheza. Afinal, foi naquela pequena freguesia de Vila Nova de Gaia que Joaquim Santos nasceu. Agora, Joe tem um bar na pacatez e simpatia da terra natal, o “American Club”, onde mostra a sua curiosidade pela vida. Viajou e do mundo trouxe muitas histórias e outras tantas delícias gastronómicas. As tertúlias de poesia e de leituras fazem parte do menu.

Porquê o nome “American Club”?
Senti falta do meu estilo de vida em Miami. O “American Club” vai ao encontro desse estilo de vida, além da divulgação da cultura nacional e internacional.

Na Granja?
A Granja é um lugar nostálgico, de noites boémias das elites de outros tempos… Durante décadas, entre o seu hotel e a “Assembleia”, foi palco de convívios, tertúlias da sociedade portuguesa e internacional. Nomes como o Rei D. Carlos, a Rainha D. Amélia, [os escritores] Ramalho Ortigão, Eça de Queiroz, Almeida Garrett, [o ministro do Reino e deputado, em meados do século XIX] Anselmo José Braancamp, além de nomes mais recentes como [o da escritora] Sophia de Mello Breyner ou [do político] Francisco Sá Carneiro.

O que fazia antes do “American Club”?
Em 1974, no dia 25 de Abril, tudo mudou. A praia da Granja virou um lugar fantasma sem os habituais clientes do Verão. Apareceu uma oportunidade de ir para Londres e agarrei a oportunidade. Enquanto estudava e trabalhava fui abrindo os meus horizontes. Trabalhando numa loja de vinhos, desenvolvi conhecimentos e fiz formação em vinhos franceses, pois tinha em vista um navio que dava a volta ao mundo… o Queen Elizabeth II… o meu sonho. Passei pelas zonas vinhateiras francesas, em trabalhos precários, pelo sul de Espanha e, em meados dos anos 1980, fui contactado pela empresa dona do navio para embarcar! O meu sonho acontecia. Chego a Fort Lauderdale, Florida, após a viagem mais deslumbrante da minha vida e trabalhando como head sommelier. Fiquei algum tempo em Nova Iorque até conseguir visto legal e fiz formação de croupier de casino. Trabalhei e estudei gestão empresarial, com o objectivo de chegar a gerente de casino, cargo que desempenhei com muito sucesso até o meu regresso a Portugal, em 2011, por motivos familiares. Foi um regresso temporário que se transformou em permanente.

“Sem o conhecimento de outras culturas, nunca poderia ter construído uma vida tão rica e versátil.”

É budista e vegetariano. Como chegou aí?
Fiz vários retiros espirituais, com formação em Hatha Yoga e Ashtanga e Reiki. Percorri de autocarro a ligação entre Mumbai [Índia] e o Tibete, passando pela fronteira do Paquistão. Uma experiência aterradora! Segui rumo a Hong Kong, passando pela China, numa aventura fantástica. Depois, visitei os principais lugares sagrados do mundo, ou considerados como tal: desde Israel [Jerusalém], à Arábia Saudita [Meca] e, de novo, Índia – à festa das cores e chegada da Primavera, que simboliza a vitória do bem sobre o mal.

Foi importante conhecer outras histórias para criar a sua?
As palavras que a pergunta me sugere: orgulho e gratidão, após tantos anos poder voltar às raízes e retribuir as minhas vivências. Sem o conhecimento de outras culturas, nunca poderia ter construído uma vida tão rica e versátil.

As medidas de isolamento para conter o avanço da pandemia do coronavírus chegaram de repente. Como se viu desde então e como prevê esta nova fase de desconfinamento?
A situação colocou-nos a todos numa situação muito difícil. As dificuldades são palpáveis em vários sectores de actividade e na população. Consegui passar esta fase com positividade e resiliência. Por isso, estou bastante optimista quanto à nova fase de desconfinamento.