A broa de Avintes é, talvez, o símbolo maior da gastronomia de Vila Nova de Gaia. Feita a partir de farinhas de milho branco e de centeio, o seu travo agridoce faz dela “um pão santo e bendito”.

Reza a história que o seu aparecimento se deve a uma decisão do rei D. Dinis que, para tentar reduzir os incêndios que deflagravam no Porto por causa dos fornos, separou as padarias. As das broas de trigo foram para Valongo e as das broas de milho para Avintes, aproveitando o elevado número de moinhos no rio Febros.

Mas, só em 1563, o fabrico da broa de Avintes é citado pela primeira vez num alvará. Em ofício datado de 12 de Dezembro de 1811 lê-se: “É um pão santo e bendito, símbolo de paz, pioneiro da alegria, apóstolo do amor, criador e fomentador de civilizações”.

A broa de Avintes é presença diária à mesa dos avintenses. Fabrica-se a partir da mistura das farinhas de milho branco e de centeio. A responsabilidade da sua cor morena é da farinha de centeio. De textura húmida e macia, com pouca côdea, em forma de um cilindro convexo na parte superior, salpicada de farinha à saída do forno, deixa um intenso travo agridoce. O sabor é mais ou menos forte conforme o gosto dos fabricantes, que guardam os segredos da receita, transmitindo-os apenas aos seus.

A broa feita no feminino

A broa de Avintes tem uma forte ligação à mulher. Na maior parte das vezes eram as próprias padeiras quem fazia o transporte para o Porto, nos barcos “Valboeiros”. “Eram mulheres robustas, muito bonitas, sendo reconhecida a sua fama por todo o lado”, diz Paulo Sá Machado, presidente da Confraria da Broa de Avintes.

Agora, as padeiras recebem as farinhas misturadas do fornecedor. Depois, ligam o fermento, a água e o sal, com as mãos ou em amassadeiras. Se o trabalho for manual, juntam a massa a um canto e fazem uma cruz, dividindo-a em quatro. Colocam-lhe por cima uma manta, abafando-a, para levedar. Por fim, enformam a broa em escudelas ou tigelas.

Antes de fechar a porta do forno, a padeira empunha a pá e com ela faz o sinal da cruz, pronunciando a frase: “Deus te acrescente dentro do forno e fora do forno como pelo mundo todo!”. Estes rituais e orações dão-lhe um cunho religioso, de crenças cristãs.

A confraria

A Confraria da Broa de Avintes foi criada em 1997, após a primeira festa da broa, em 1989. Além da preservação dos valores tradicionais da confecção, dos ingredientes e das raízes culturais, a ligação às gentes locais é fundamental para a preservação da genuinidade da broa – “na maioria das grandes superfícies é falsificada”, alerta o confrade Paulo Sá Machado. Esse laço explica o sucesso do Concurso de Quadras desde há 24 anos – a Associação Avintense, organizadora do evento, recebe entre 700 a 800 quadras de cada vez.

“Morena de pele dura

Desdenhei, quando te vi.

Provei-te, broa de Avintes.

Não posso viver sem ti”

José Vaz, Concurso de Quadras

Dalila Garcia