ARRÁBIDA, A PONTE QUE NUNCA CAIU

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Por Ana Garrido e Taymar Celaro


A 22 de junho de 1963 era erguido, à época, o maior vão de betão armado (270 metros) em todo o mundo. E assim nascia a Ponte da Arrábida, a primeira grande ponte sobre o rio Douro projetada e construída pela engenharia portuguesa – segundo o engenheiro Edgar Cardoso –, que este ano celebrou 59 anos.


Com o aumento crescente do tráfego entre Porto e Gaia surgiu a necessidade de uma nova ponte, além das duas já então existentes (Maria Pia e Luiz I), e os estudos para solucionar o problema foram iniciados em 1930. Em 1945 surgiu a ideia da criação de uma nova ponte que, em 1950, foi submetida ao Conselho Superior das Obras Públicas. Seis anos depois, foi iniciada a sua construção.


Dentre os pré-projectos avaliados, foi escolhido o de betão armado em forma de arco ligando as duas margens do Douro entre o Candal e a Arrábida.
A ousadia do projeto, no entanto, foi muito criticada pelos portuenses, como conta Helder Pacheco, historiador, professor universitário e autor de extensa literatura sobre a cidade do Porto. A reação não foi de rejeição do desenho, mas sim de desconfiança relativa à segurança da construção. “Havia ‘mirones’, sobretudo reformados, mas não só, que iam quase diariamente ver as obras”, relata o historiador, que relembra que a emoção e as dúvidas sobre a segurança da ponte eram tantas que “até se fizeram apostas, sobre se a estrutura iria ou não cair quando tirassem o cimbre. Afinal, não caiu”, ironiza Helder Pacheco. “A opinião pública duvidosa perdeu então a aposta.”


Para se ter uma ideia do pessoal alocado à construção, importa sublinhar que o número de homens-horas trabalhadas ascendeu a oito milhões, com uma média diária de 400 operários na obra. Quanto ao material utilizado, foram necessários 19 280 toneladas de cimento e 58 700 metros cúbicos de betão para construir a estrutura com 495 metros de comprimento total e 26,5 de largura total.


Para permitir a circulação de peões durante a construção da ponte, foram instalados quatro elevadores, dois de cada lado, que tinham capacidade para 25 pessoas. Porém, por questões de segurança, em 1986 os elevadores deixaram de funcionar e foram retirados.


Depois da sua construção, a ponte sofreu duas intervenções relevantes:
na década de 1990, surge uma alteração do perfil transversal da via que envolveu basicamente a eliminação das pistas para ciclistas e a redução da largura do separador central, permitindo dessa forma que o atravessamento passasse a ter três faixas de rodagem em cada sentido. Foram ainda realizadas obras importantes de beneficiação que envolveram trabalhos de reabilitação estrutural em elementos de betão armado degradados, reparações no tabuleiro, substituição das juntas de dilatação e renovação das instalações elétricas e de comunicações. Na ocasião, para o melhor deslocamento dos operários foram construídos degraus nos arcos da ponte.


A Ponte da Arrábida foi classificada como Monumento Nacional em 2013, no ano do seu 50.º aniversário, com o reconhecimento formal daquela que já era considerada uma obra-prima no que diz respeito à engenharia de pontes.

Visitas guiadas ao arco da ponte

A ponte já chamava a atenção pela sua construção e arquitetura, mas agora é ainda mais interessante por existir a possibilidade de subir os 262 degraus que permitem visitar o arco da ponte e ter uma experiência diferente e especial. As visitas tiveram início em 2016. Este é o único arco de uma ponte que pode ser visitado na Europa.
A ideia de explorar e ter a possibilidade de conhecer as outras nuances da Ponte da Arrábida foi do empreendedor Pedro Pardinhas, que detém a concessão para operar o programa de visitação conhecido como Porto Bridge Climbing.


“De férias com a minha esposa em Belgrado, na Sérvia, visitei uma ponte que tinha um elevador em funcionamento e pensei em recuperar os elevadores da Arrábida”, conta Pedro a subir as escadas da Arrábida. A partir daí iniciou as negociações com os órgãos competentes, mas como os antigos elevadores estavam em mau estado, não era financeiramente viável utilizá-los. “No entanto, já havia degraus e idealizei projeto atual apenas colocando equipamentos de segurança que garantem uma subida tranquila”, confirma. Ano e meio após o início das negociações colocaram a ideia em funcionamento.


Com visitas diárias em diversos horários, assistidas por guias treinados e com todos os cuidados com a segurança que a atividade exige, o Porto Bridge Climb oferece também uma infraestrutura básica, disponibilizando casa de banho e arrumos para eventual guarda de volumes.


“A afluência ao programa é de cerca de 10 mil pessoas por ano, distribuídas entre moradores locais e turistas, nas mesmas proporções.” O empreendedor diz que “o participante, em média, está entre os 20 e 50 anos”, salientando que “a divulgação da imprensa foi de grande importância no início da empresa”. Hoje, essa divulgação é também feita através de operadoras de turismo e pelas redes sociais, mas o boca-a-boca tem sido um fator preponderante para a viabilidade da atividade.


Com a preocupação de priorizar os moradores locais, é oferecido desconto nos ingressos de quem apresenta o Andante, cartão de transportes intermodais do Porto, e para grupos de cinco ou mais pessoas.