Foto: Michelle Bernachon/Conceição Dias

A pesca tradicional na pequena vila da Aguda, Arcozelo, está presa por fios. Longe vão os tempos de fartura de quem saía para o mar e voltava de redes cheias. Hoje, a luta diária é cada vez mais difícil para quem vive do mar.

Por Conceição Dias e Michelle Bernachon (texto e fotos)

O dia começa cedo para os pescadores da Aguda. Ainda o sol não se levantou e já os pescadores se fazem ao mar para trazer o ganha-pão para casa, numa luta teimosa contra as dificuldades do dia-a-dia.

O regresso acontece por volta das oito da manhã e nem sempre é muito animador.

José Maria sai para o mar quando tempo permite

“Saímos quando o tempo nos permite”, diz um resignado José Maria. O Vozes de Gaia foi encontrar este pescador junto à lota, depois de ter descarregado o pouco peixe que conseguiu capturar.

Naquele dia, o mar não tinha sido muito generoso em polvo, lavagante, sapateira, linguado e camarão, as espécies principais que José Maria costuma trazer para terra, rumo à pequena lota que resiste aos tempos modernos. Ele é dos poucos que ainda mantém a tradição da pesca artesanal na Aguda.

Na lota, os preços de venda ainda são apregoados na moeda antiga – “dois contos!” –, fazendo do leilão um verdadeiro “show”. As três mulheres que recebem o resultado da faina vão, assim, expondo o peixe fresquinho à espera de quem chegue para comprar.

Os compradores são os restaurantes locais, os habitantes, alguns forasteiros e a peixaria “Mar da Aguda”. Praticamente, a única nas redondezas e que mantém grandes tradições familiares na venda de peixe fresco.

Cada saída custa 40 euros…

Os pescadores da vila da Aguda lutam com grandes dificuldades para manter os seus barcos a navegar. As muitas despesas de manutenção e o preço excessivo da gasolina não ajudam: cada saída de barco custa, em média, 40 euros em gasolina, mais a manutenção das embarcações, as licenças de pesca, etc.

Há dias em que os pescadores não trazem pescado suficiente para cobrir os seus custos fixos. Muitas vezes, têm que recorrer à ajuda financeira dos filhos que trabalham noutras artes. A pesca já não é como antigamente e os rendimentos são cada vez mais curtos…

A peixaria Mar da Aguda é um dos compradores locais

Aguda, vila de pescadores

A Aguda é uma vila de pescadores com mais de um século de história na tradição da pesca artesanal, transmitida de geração em geração até aos nossos dias.

Em 1870, período a partir do qual há registos credíveis, os pescadores da Afurada e de Espinho instalaram-se na Aguda, iniciando a construção de pequenos abrigos em madeira para a pesca do caranguejo “pilado”. As captiras eram depois vendidas aos agricultores locais para adubo dos campos de cultivo.

No início do seculo XX, a Aguda tinha 47 bateiras grandes e 157 barcos pequenos. Agora, restam seis barcos de pesca que, com muitas dificuldades, os pescadores vão mantendo.

Sem incentivos, nem ajudas de qualquer índole, os poucos pescadores que ainda existem vão tentando, a muito custo, manter a tradição. Mas, pelo ritmo a que as embarcações têm vindo a diminuir, dificilmente os pescadores terão descendentes que queiram continuar este ofício. Esta longa tradição tende, assim, a desaparecer das praias da Aguda…