Projecto da União das Freguesias de Grijó e Sermonde propõe a construção do Centro Interpretativo da Batalha de Grijó, que opôs os aliados portugueses e ingleses contra as tropas francesas de Napoleão, em 1809

Por Francisco Silva (texto e fotos)

A criação de um Centro Interpretativo da Batalha de Grijó é uma aspiração das gentes desta freguesia de Vila Nova de Gaia. Em Dezembro de 2019, foi apresentado um projecto ao OPP – Orçamento Participativo de Portugal para imortalizar um dos momentos mais decisivos da luta dos portugueses contra as tropas de Napoleão. Em 2020, o executivo da União de Freguesias de Grijó e Sermonde formalizou a proposta à Assembleia de Freguesia, tendo sido aprovada.

Mais de dois séculos depois da dura batalha que colocou frente a frente as forças invasoras francesas e os aliados luso-britânicos, são inúmeros os vestígios e as memórias desses tempos, quer em Vila Nova de Gaia quer no Porto. O local que assinala a Tragédia da Ponte das Barcas, na Ponte Luiz I, é um exemplo emblemático. Em Grijó, a simbologia ganha ainda mais força, com um obelisco alusivo ao local da batalha, diversas ruas às quais foram dados os nomes de alguns dos protagonistas e uma placa alusiva aos mortos de 11 de Maio de 1809.

Recriação da reunião das tropas aliadas antes da grande batalha, que culminou com a expulsão dos exércitos de Napoleão

A Segunda Invasão Francesa

Recordemos alguns dos momentos mais marcantes desta página da história de Grijó e da agora Vila Nova de Gaia, para melhor se perceber a importância dos desígnios da UFGS, com a proposta apresentada ao executivo municipal.

No ano de 1809, as tropas de Napoleão invadiam pela segunda vez Portugal, desta vez pelo Norte do País. Viviam-se tempos difíceis e as tropas invasoras marcaram com violência a população. O Porto, a segunda cidade mais importante do Reino de Portugal, foi ocupada pelas forças francesas comandadas pelo marechal Soult quando se deu a tragédia da Ponte das Barcas. No dia 29 de Março, a população tentou fugir para Gaia, atravessando o rio pela ponte feita por barcas, que cedeu, matando cerca de quatro mil pessoas. Uma tragédia imortalizada pelas “Alminhas da Ponte” e deixando marcas que perduram até aos dias de hoje.

A 17 de Abril, o marechal francês enviou forças de reconhecimento para Sul, até Albergaria, onde começaram a ter alguma dificuldade devido às milícias populares, nomeadamente em Arrifana.

Arthur Wellesley, nomeado comandante-chefe dos exércitos britânico e português, chegou a Portugal a 22 de Abril. A 6 de Maio saiu de Coimbra com o intuito de expulsar os invasores franceses e assim auxiliar o exército português, que tinha a força e a coragem de defender o país. A 11 de Maio, as forças luso-britânicas avançaram contra as forças napoleónicas com os regimentos artilharia 4, cavalaria 4, 7, 10, e infantaria 1, 13 e 16.

O jantar a meio e a ocupação do Porto

O general Franceschi, comandante da divisão de cavalaria ligeira das tropas de Napoleão, estabeleceu o seu quartel-general em Grijó e as tropas restantes da divisão Mermet ficaram em Gaia. Conta a História que estavam a jantar no Mosteiro de Grijó quando tiveram que se retirar apressadamente devido ao aproximar do exército português.

O primeiro batalhão do regimento português de Infantaria 16, então pertencente à Brigada Stuart, praticou um arrojado movimento investindo contra as posições inimigas, sendo-lhe guia a valente espada do seu distintivo coronel, D. Luís Machado de Mendonça. Antes do ataque falou assim o Coronel aos seus soldados:

Gravura da Batalha de Grijó. DR

“Sei como sois valorosos. É chegada a ocasião de mostrares o vosso valor e patriotismo. É melhor morrer no combate que deixar-se vencer pelo inimigo. Eu, Coronel, vou na vossa frente, sigam-me; e caso vejam eu retirar-me do fogo do inimigo, matem-me.”

Após a derrota no combate em Grijó, as forças francesas recuaram para o Porto, ficando protegidas pela falta de acesso por Gaia. No dia 12 de Maio, as forças comandadas pelo general Wellesley, já em Gaia, prepararam a tomada da cidade do Porto, atravessando o rio Douro por barco em Avintes, feito que acabou com a ocupação das forças Napoleónicas da cidade do Porto a 13 de Maio.

Um espírito de valor e patriotismo do 16.º Regimento de Infantaria são referência da divisa da Bandeira do Regimento: Conduta Brava e em tudo Distinta.