A Escola Oficina começou pela costura. Entretanto, alargou-se às artes gráficas e à cartonagem.

Capacitar pessoas para as integrar no mercado de trabalho é o propósito da Escola Oficina.

Por Fernanda Maia

Diana Mota, técnica de acção social e coordenadora do projecto, não tem dúvidas: “A Escola Oficina é a menina dos nossos olhos”. O projecto nasceu no Balteiro, empreendimento social (sediado na freguesia de Vilar de Andorinho) com a necessidade de ocupar a sua população, quase toda beneficiária do rendimento social de inserção – “Não como uma ocupação de tempos livres, mas como uma capacitação que futuramente permitisse integrá-los no mercado de trabalho.” A equipa apercebeu-se que “havia gente que gostava de costura e que até faziam uns trabalhos”, pelo que logo a sala de atendimento social se tornou local de trabalho de algumas costureiras.  

Porém, para integrar estas pessoas no mercado de trabalho importa qualificá-las. Assim, em 2015, Diana Mota contactou a Escola Profissional e Artística Árvore, pois tem conhecimentos na área de moda e costura, e seria o parceiro ideal para ensinar estas pessoas a costurar. De seguida contactou a SUMA, empresa vizinha do empreendimento, para cederem lixo e desperdício têxtil para os trabalhos da costura.

“Assim nasceu o projecto social e de inovação social a custo zero. Juntámos as sinergias da Gaiurb – que fazia o acompanhamento social, tinha as pessoas, tinha o diagnóstico, tinha a necessidade –, a Escola Árvore a ensinar e a SUMA a ceder desperdício que, de outro modo, seria destruído, sem qualquer trabalho de reutilização. Em 2015 ainda não havia sensibilidade para a economia circular ou para a reciclagem, nem sequer se falava dos objectivos de desenvolvimento sustentável. Por isso foi algo fora da caixa.”

O projecto que começou com a costura foi alargado às artes gráficas e à cartonagem, reutilizando o papel. Uma costureira a tempo inteiro, um operador gráfico, dois técnicos da área social por onde passam todas as pessoas, fazem um diagnóstico internamente. Se alguém tiver necessidade de outro tipo de formação para o qual não têm resposta, encaminham para quem o consegue, pois trabalham com toda a rede social de Gaia e da Área Metropolitana do Porto.

Marcos Almeida é o responsável pela cartonagem e pelas artes gráficas. Porém, sublinha, “aqui fazemos mais do que isso”. Além da cartonagem e das artes gráficas, conta, “Abraçamos todos os projectos e às vezes saímos das artes gráficas vamos para a madeira, para os rígidos, para os semi-rígidos, é o desafio que nos vier parar às mãos.” Aqui fazem manualmente lembranças que entregam a todas as pessoas com mais de 90 anos que moram em habitação social. E fizeram cadernos, manualmente, com papel de carta de uma empresa, que ia para o lixo.

Sustentabilidade, economia circular e desenvolvimento

Para que as pessoas tivessem uma melhor aprendizagem, e porque a aprendizagem implica dedicação, as pessoas são integradas numa oficina, um local de produção, porque de lá saem “produtos que são únicos, de uma matéria que é única e feitos à medida”. A SUMA, que necessitava frequentemente de produtos de merchandising para os seus eventos, passou a comprar artigos feitos por pessoas que tinham sido capacitadas – e, no fim, o dinheiro da venda desses artigos era para quem os tinha produzido. Era uma rampa de lançamento. Deste modo, continua Diana Mota, “conseguimos trabalhar a sustentabilidade ambiental e das famílias, a economia circular e o desenvolvimento social e económico”. 

A Escola Oficina está sediada nas primeiras instalações da Gaia Social – entretanto absorvida pela Gaiurb –, que estavam desocupadas. Com as obras necessárias, criaram melhores condições para trabalhar. A Gaiurb comprou mais máquinas de costura, “no sentido de dar melhores condições para a capacitação”.

A capacitação tanto pode ser feita por grupos, durante o dia ou à noite. Se não conseguirem formar grupos coesos, ou seja, com o mesmo nível de aprendizagem, fazem capacitação individual, à medida.

Mas o projecto não ficava por aqui. Criaram contactos com cerca de 400 empresas, com as quais trabalham frequentemente, no sentido de identificar as suas necessidades e assim criarem respostas para essas necessidades. Com este levantamento conseguiram 50 empregos imediatos. “São estas empresas que criam trabalho”, explica Diana Mota. “Nós ajudamos as pessoas a procurar emprego. Quando não o sabem fazer, ajudamos. Não sabem fazer um curriculum, nós ajudamos. Vão a uma entrevista de emprego, não sabem como se comportar, nós ajudamos. Acompanhamos e preparamos as pessoas.”

Desde 2015 até agora, já acompanharam cerca de cinco mil pessoas. “Não temos publicidade, nem nas redes sociais. As notícias saem no Facebook da Gaiurb. A melhor publicidade é o passa-a-palavra. Isso orgulha-nos muito, pois, como costumamos dizer internamente, somos poucos, mas uma equipa muito boa, muito coesa.” Passa-a-palavra é o que tem acontecido. São as pessoas que os procuram e não o contrário. A não ser na habitação social: “Estás desocupado? Anda experimentar.” Foi assim começou o projecto-piloto.

Trabalham com pessoas não só do Balteiro, mas de toda a área metropolitana do Porto. Já ajudaram, inclusive, pessoas de Amarante que os procuraram. E tudo pelo passa-a-palavra. “Isto é muito enriquecedor para nós.” Agora estão a trabalhar na criação de um plano de comunicação nas redes sociais. 

Têm tido muita procura por parte das universidades e das escolas. Diversas escolas de Gaia querem que os seus alunos de artes gráficas façam o estágio na Escola Oficina. Isto porque, para além da preparação para o mercado de trabalho que fazem, os alunos sentem o apoio e o ambiente que numa empresa não sentiriam. 

“Não nos podemos esquecer de que somos um projecto social. Estamos a trabalhar com jovens que estão a adquirir competências e também temos de fazer o nosso trabalho social. Para além de estarmos a capacitar para o mercado de trabalho, não pode ser só produção, produção – apesar de a produção ter aumentado muito, é muito levada a sério, como uma empresa. Nós comercializamos para fora, para empresas e mantemos a mesma lógica de aquilo que é vendido ser para quem produziu.”

“O que alterámos ao projecto inicial é que retiramos uma pequena percentagem para a sustentabilidade da oficina: comprar agulhas e óleo para as máquinas de costura, pagar a manutenção, etc. A sustentabilidade do projecto é essencialmente garantida pela Gaiurb e pela Câmara Municipal de Gaia – alguns dos recursos humanos eram quadros da empresa, disponibilizados para o projecto continuar, porque sabemos o impacto que tem na população e agora também no tecido empresarial.”

Cientes do impacto que têm no ambiente, têm uma técnica do serviço de ambiente que trabalha o impacto ambiental do projecto. 

“Temos muito para descobrir e trabalhar dentro do projecto. O acompanhamento social, por si só, ocupa-nos muito tempo, a capacitação também. Estamos a trabalhar com pessoas e a resposta que damos é à medida, o que exige mais a quem trabalha. Vamos ao encontro do que as pessoas necessitam.”

A equipa é pequena, mas bem formada. Tem crescido. São seis, sete pessoas para a unidade toda de desenvolvimento social. Alguns dos técnicos foram, eles próprios, capacitados pelo projecto, que depois os contratou. 

“Em 2021 ganhámos o Prémio Nacional dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável Local, na categoria de Prosperidade, o que para nós foi um orgulho muito grande. O que queremos é prosperidade. A prosperidade tem um futuro. Gostamos do que fazemos e queremos fazer sempre mais e melhor. Sabemos que conseguimos marcar a diferença na vida de alguém e é isso que nos alimenta. Ficamos muito felizes com isso.”