O mundo inteiro em Vila d’Este

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Urbanização construída há mais de quatro décadas alberga cerca de 20 mil habitantes oriundos de diversos países.

Neca Machado

Quando foi construída no período de 1976 a 1982 na margem da A1, na freguesia de Vilar de Andorinho, Vila Nova de Gaia, Vila d’Este surgia como uma proposta de habitações a preços populares para satisfazer a enorme procura de moradias. Naquele tempo, os destinatários eram, maioritariamente, os moradores de habitações precárias, ou mais degradadas, do concelho. Actualmente, a urbanização conta com mais de 20 mil moradores oriundos de diversos países, num conjunto de 109 edifícios, distribuídos por 18 blocos com 2 085 habitações e 76 espaços comerciais.

Vila d’Este tornou-se numa verdadeira Torre de Babel, com idiomas de todo o lado do mundo espalhados pelos vários recantos daquela urbanização. Habitantes de todos os continentes escolheram Vila d’Este para sua morada: o local fica no coração do concelho de Vila Nova de Gaia, a poucos minutos da cidade do Porto.

Para a brasileira Maria, professora aposentada que escolheu Vila d’Este para residir, os seus critérios foram a localização e os valores de arrendamento mais em conta. Porém, está preocupada com o possível aumento das rendas, na sequência da chegada do Metro do Porto à urbanização até 2024 – informação não confirmada oficialmente.

O complexo urbanístico de Vila d’Este foi construído entre 1976 e 1982. Foto: Neca Machado

Vila d’Este não é um paraíso, também tem problemas estruturais, que acabam por resultar em ruído. O barulho resulta de obras de remodelação sem aviso, calçadas sem manutenção, dejetos de animais deixados por moradores nas ruas, música alta nos fins de semana, mas, para Maria, que reside há quase dois anos no local, ainda é um verdadeiro espaço seguro para residir. “Nunca fui assaltada”, diz, realçando, por outro lado, a limpeza permanente, a colecta selectiva de resíduos sólidos, áreas de lazer e os espaços verdes para passeios, tanto de animais como de pessoas.

Desde que foi inaugurada, Vila d’Este passou por inúmeras transformações, tanto de residentes, como da sua população. O nível cultural dos moradores é hoje bem mais elevado do que há duas décadas, as áreas profissionais diversificaram-se: militares, profissionais independentes, funcionários públicos, estudantes universitários, trabalhdores de comércio, etc. Também no campo das condições económicas, a diversidade é hoje maior do que nos primeiros tempos de Vila d’Este: lado a lado, convivem desempregados com profissionais classe média, carros populares e carros nobres a encher os estacionamentos…

Andando nos autocarros é fácil perceber as tradições de países que vivem na urbanização, com mulheres africanas e seus trajes coloridos, juntamente com mulçumanas e seus véus, dialetos, e o inglês que predomina nas conversações. O mundo inteiro está em Vila d’Este.