O segredo da água da mina

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Lavadouro da Fonte de Barreiros

Uma crónica de JOSÉ DIAS

Na década de 1950, a freguesia de Mafamude era predominantemente rural e com bastantes áreas de cultivo. Situava-se a nascente da Avenida Marechal Carmona, hoje Avenida da República. A criançada era conhecida pelo nome da zona de residência. Havia o grupo da Igreja, das Pedras, Paço de Rei, Cravelos e os do Agueiro. Estes eram os mais temidos pelo “respeito” imposto pela força.

Eu pertencia ao grupo da Igreja. Cinco amigos porreiros, brincalhões e muito aventureiros. A mais recorrente era ir roubar fruta, maçarocas de milho e tomar banho às represas das quintas dos vários lavradores locais. que quando se apercebiam da nossa presença escondiam-nos a roupa, para melhor nos apanhar. Lá andávamos nós, nus, a procurar a roupinha. Só a encontrávamos, nas mãos do dono da quinta! Quem tinha pernas lestas fugia … os outros levavam uma “chapadela” e um ralhete. 

Na conquista de novas experiências e descobertas aconteceu a maior aventura.

Depois de percorrermos alguns (muitos) metros por locais, para nós, pouco conhecidos, reparamos que no meio de um pinhal localizado numa propriedade de nome “Entre Quintas”, (onde hoje estão situados, a nascente, a Quinta da Lavandeira e a poente a empresa de Salvador Caetano), se encontrava uma mina em forma de gruta de onde brotava um fio de água límpida.

– Vamos espreitar?
– VAMOS!!! – exclamámos em conjunto.
Estava muito escuro. Era uma oportunidade de ir à descoberta e aventura. Desistir, nunca.
A questão era saber como resolver o problema.
– Já sei! Vamos roubar velas à igreja, disse um de nós.
-Sim, mas atenção ao sacristão!

Problema resolvido.

Voltamos à gruta e organizámos a expedição, de forma que ninguém ficasse perdido ou magoado.

Então: ficou um à entrada a vigiar, ou pedir socorro, no caso de haver algum “azar”. Os restantes descalçaram-se, arregaçaram as calças e acenderam as velas. Com a água pelos joelhos e acompanhados pelo medo, mas motivados pela aventura e pelo desconhecido. Andámos, andámos (hoje, penso que 200 metros) até que chegámos a uma espécie de sala. Parámos e, de olhos bem arregalados, olhámo-nos pasmados e em nosso redor. Coisa nunca vista! Era uma câmara enorme, de forma redonda (talvez com dez metros de diâmetro), em saibro e com água a pingar de vários pontos. Era dali que vinha a água da mina! Deduzimos nós.

Depois de festejarmos a descoberta, saímos da gruta feitos heróis e, já todos juntos, quando terminámos o festejo, jurámos que aquela aventura seria o grande segredo. Só nosso!

E nunca mais lá voltámos.