Vila D’Este volta a por o relógio a contar e as peças de Xadrez a mexer

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O xadrez volta a ser prioridade na Associação de Proprietários (AP) da Urbanização de Vila D’Este, em Vilar de Andorinho. Tem abertas as inscrições e Paulo Amorim, o primeiro campeão distrital com as cores da associação, é o treinador. 

Por Jorge Santos

Há pais que se queixam da dificuldade de concentração dos filhos na escola, de terem raciocínio “preguiçoso”. A prática do xadrez pode ser um excelente adjuvante, se as crianças sentirem interesse pelo jogo. Paulo Amorim, 23 anos, que foi jovem campeão distrital de sub-8 e sub-10 é quem o sugere. E há pais que lhe agradecem.
“A criança não pode ser pressionada a jogar, pois não funciona desse modo. Vem fazer um treino e se sentir interesse em continuar, divertir-se a mexer as peças e aprender, pode fazer-lhe muito bem. Tal como nas modalidades físicas. É com a carga de treino que o atleta evoluí; no xadrez passa-se o mesmo. Só que em vez de ganhar massa muscular, a criança ganha capacidade de concentração, memorização e rapidez de raciocínio. E também ferramentas mentais para superar obstáculos. O que vai ajudar bastante na escola, porque fica com o cérebro em “forma”, diz Paulo Amorim.

Há quem tenha a ideia de que o xadrez é para os inteligentes, aqueles que têm um coeficiente intelectual alto. Mas isto não passa de mito. Todos podem aprender e jogar. Basta que tenham gosto. E queiram evoluir. 
“Todos podem aprender. O xadrez, na sua vertente desportiva, está ao alcance de toda a gente. As crianças que não gostam de perder evoluem mais rapidamente. No xadrez há respeito e o mundo do preconceito não entra.”, conta Paulo Amorim.

Desporto, arte e ciência

A modalidade é, para alguns, de difícil classificação: desporto, arte ou ciência? Para Paulo Amorim, não há dúvidas, pois responde com convicção.
“É desporto, porque tem exercício (cerebral) e competitividade, há quem ganha e quem perca; arte, porque todo o envolvimento é belo: os tabuleiros, as peças, os relógios, o próprio ambiente onde decorrem os torneios; é ciência porque está ligado às matemáticas, ao cálculo e à previsão. Muitas vezes tem de prever-se a jogada do adversário quando iniciamos a nossa. Os computadores, hoje, ainda não conseguem calcular com 100% de certeza todas as jogadas e suas variantes.”

Em Gaia vai havendo alguns cursos de iniciação ao xadrez, mas poucos face ao número de habitantes do concelho. Nas escolas, a abordagem se não for bem feita, não corre como é pretendido.
“Se (a abordagem) não for cautelosa, os jovens ouvem falar de xadrez e só pensam que é uma “seca”. E é profundamente falso. Ao contrário, é muito divertido”, conclui.

De momento a secção já conta com sete crianças e três adultos e parece que as peças voltam ao seu devido lugar: Associação de Moradores de Vila D’Este. Uma colectividade que deu “cheque mate” ao preconceito e a velhos rótulos, injustos, que o bairro carregou. As actividades da AP, mormente o xadrez, mostram a sua verdadeira essência, tornando-se um caminho para os outros através de uma modalidade que desenvolve os jogadores.

Vila D’Este capital do Xadrez
Porque aquela associação, no xadrez, em 2011, tinha cerca de 80 participantes. Entre eles, uma campeã nacional e oito campeões distritais. “O xadrez faz parte da nossa raiz. Temos várias modalidades, mas o xadrez sempre foi das mais dinâmicas. Depois, houve clubes que pretenderam os nossos jogadores e treinadores e eles foram embora. Ficámos sem secção”, explica António Moreira. “Mas como, para nós, o importante é que os jovens pratiquem as modalidades que gostam, não criámos qualquer tipo de entrave. Agora, alguns deles voltaram. Alguns pais, aprenderam aqui, na AP, e querem que os filhos aprendam e joguem também aqui. Foi assim que a secção arrancou de novo”, afirma António Moreira.

INSCRIÇÕES ABERTAS!

Primeiro campeão de Vila D’Este
Paulo Amorim, actualmente com 23 anos, começou com 6 e aprendeu com bastante facilidade. Daí os seus títulos distritais. O primeiro campeão de xadrez da AP de Vila D’Este. “Eu comecei por brincadeira. A minha mãe era voluntária na AP, eu estava lá com ela, abriram a secção de xadrez e entrei. Fui por mera curiosidade e aprendi. Gostei muito, fiquei com o “bichinho”. Até ganhava aos treinadores” – diz a sorrir. Com os dois títulos de campeão distrital (sub-8 e sub-10), entre “rápidas”, “semi-rápidas” e “clássicas”, vieram os “nacionais”. E Paulo Amorim ficou fascinado. E as coisas correram mal.
“Fui duas vezes aos “nacionais” em Portimão e uma vez à Figueira da Foz. A Associação de Xadrez do Porto pagou o alojamento e a estadia. Mas para mim era tudo tão novo, viagens, hotel, tudo. E em vez de me focar nos torneios, focava-me nas brincadeiras”.
Porque para o jovem xadrezista, a modalidade era prazer, diversão, brincadeira, até. Nunca lhe passou pela cabeça subir muitos degraus e chegar a mestre. Mas jogar era como um bálsamo. Paulo Amorim define bem esse seu estado de espírito quando estava atrás do tabuleiro. “Sentia-me bem quando jogava. Era só eu, o tabuleiro e o oponente. E não pensava em mais nada. Muito bom!”
Para ele não há dúvida: “O Xadrez tem o seu quê de mágico. Se não acreditam, experimentem.”